quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sobre não ter passagem...

Texto muito bom da Doula Pris que atua em São Paulo! Bastante esclarecedor! Leiam!

Todo mundo conhece alguém cuja o bebê nasceu através de uma cirurgia cesariana porque "não tem passagem". É um discurso que permeia o imaginário das mulheres e que, por vezes, está presente na fala dos próprios médicos!Mas o que 'raios' significa não ter passagem? Dá pra realizar esse diagnóstico só de olhar para a gestante? Isso é genético? Se minha mãe não teve passagem, eu não vou ter também? O que eu faço para ter a tal da passagem???? Socorro!

Calma, gente. Todo mundo tem passagem. Ou melhor, dilatação do colo do útero.

Durante a gestação, todos sabemos que o bebê fica posicionado dentro do útero, envolto pela bolsa das águas que contém o líquido amniótico. O colo do útero fica fechadinho e grosso, justamente para o bebê não nascer antes do tempo ideal.


Quando a mulher entra em trabalho de parto, esse colo, antes grosso, começa a afinar. Vocês podem ouvir na cena do parto o profissional dizer que o colo está grosso, médio, afinando, etc. Quando o colo termina de afinar, trabalhando em conjunto com as temidas contrações uterinas, ele começa a dilatar, pouco a pouco, em um processo que pode demorar horas...ou dias.
A dilatação do colo do útero começa com 1cm e segue se abrindo até completar os 10cm ideais para o bebê poder sair de dentro dele. A dilatação acontece na saída do útero e não na vagina, como muitos acreditam. A vagina é um músculo que contrai e relaxa, ok?


Os profissionais conseguem definir o quanto o útero está dilatado através do exame de toque obstétrico. Segue abaixo uma imagem que representa o posicionamento dos dedos do profissional durante o exame, que abre os dedos em formato de tesoura.


Estime-se que, em trabalho de parto, a dilatação aumente 1cm por hora. Mas isso não é uma lei, cada parto é um parto e a natureza age se permitirmos. Durante os primeiros centímetros, as contrações têm um intervalo maior, o que permite à mulher suportá-las facilmente. É o momento em que, em uma gestação de baixo risco, a parturiente pode ficar em casa, procurar se distrair e não se focar em cronometrar as contrações. Lembre-se: um trabalho de parto pode durar horas e é cansativo, aproveite esse período para descansar, relaxar.

Infelizmente, no cenário obstétrico atual do Brasil, temos que ter um profissional engajado na busca pela promoção da humanização do parto e nascimento, um profissional que esteja preparado para encorajar a mulher a aguardar pacientemente a dilatação se concluir e, principalmente, a encoraje e a permita trabalhar esse parto, com a ajuda de uma doula e do acompanhante, em um ambiente que não seja aversivo, de modo que o trabalho de parto transcorra de forma respeitosa, sem que sejam necessárias intervenções para acelerar o processo e que, consequentemente, aumentem as chances de a mulher precisar ser submetida à uma cirurgia cesariana.

Portanto, se você está grávida e seu médico só de olhar pra você disse que você não tem passagem, ou se a sua mãe precisou ser submetida à uma cesariana por esse motivo, não precisa se preocupar porque sem dilatação não há trabalho de parto, procure um profissional que tenha experiência e vontade de acompanhar partos naturais e fique tranquila, pois o seu colo irá dilatar na hora certa.

Durante o trabalho de parto, seu bebê estará sendo monitorado e qualquer alteração na frequência cardíaca do feto será identificada pelo profissional responsável, caso você precise ser submetida à uma cesariana para salvar o seu bebê da privação de oxigênio antes que a sua dilatação esteja completa, saiba que a indicação da sua cesariana será bebê apresentando sofrimento fetal e não "falta de dilatação" ou "de passagem".

Precisamos acreditar que todas essas mulheres vítimas do sistema, principalmente as brasileiras, não vieram com defeito de fabricação !!!
Fonte:  http://www.mamaealineamorim.com/2011/03/eu-nao-tenho-passagem-por-pris-rezende.html

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